Mais de 300 docentes de diversas instituições públicas de ensino do país participaram, nesta sexta-feira (11), da plenária de Abertura do 68º Conad do ANDES-SN, realizada na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Com o tema central “Unificar as lutas anticapitalistas: contra o colapso socioambiental, em defesa da vida e da educação pública”, o evento deliberativo é organizado pela Associação dos Docentes da Ufam (Adua – Seção Sindical do ANDES-SN).
O 68º Conad, que se estende até domingo (13), tem como objetivo atualizar o plano de lutas geral e os planos setoriais da categoria, aprovados no 43º Congresso, em Vitória (ES), além de apreciar a prestação de contas do último período. Esta edição incluiu, ainda, a cerimônia de posse da nova diretoria do ANDES-SN para o biênio 2025-2027.
A mesa de abertura foi conduzida por Gustavo Seferian, presidente do ANDES-SN que encerrou sua gestão neste Conad, e contou com a participação de representantes da Adua SSind., de outras entidades sindicais, de movimentos quilombolas e indígenas, além de diretoras e diretores do Sindicato Nacional, tanto da gestão anterior quanto da nova diretoria empossada na manhã desta sexta-feira.
Mônica Xavier, presidenta da Seção Sindical dos Docentes da Universidade do Estado do Amazonas (Sinduea SSind.), enfatizou a relevância da rearticulação da seção sindical e a retomada da sua força, com o apoio do ANDES-SN e da Regional Norte 1. Ela defendeu o fortalecimento de movimentos sindicais, estudantis e populares que estejam enfraquecidos. Para ela, é urgente unificar forças para intensificar a luta contra o fascismo, em defesa da universidade pública e por pautas populares como a reforma agrária. “Em cada lugar onde o movimento sindical, estudantil ou popular esteja desorganizado, é necessário que a gente envide esforços na reorganização, porque as lutas e os desafios são enormes”, afirmou.
Clarice Gama, da Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI), também reforçou a importância da articulação coletiva diante do avanço do capitalismo sobre os territórios indígenas, por meio da mineração, construção de hidrelétricas e projetos habitacionais. Gama criticou o papel da universidade por, muitas vezes, reproduzir o pensamento colonizador e capitalista, e convocou as e os docentes a repensarem suas práticas pedagógicas, com base em uma educação anticolonial, diversa e em defesa dos biomas. “Está na hora de repensar o sistema brasileiro de educação. Será que estamos apenas cumprindo carga horária ou realmente formando mentes críticas? E, como professores, precisamos nos perguntar: estamos repovoando nossas mentes ou ainda estamos presos ao pensamento do século XVIII?”, questionou.
Elisiane Lima, do Sindicato Nacional dos(as) Servidores(as) Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica do Amazonas (Sinasefe/AM), destacou o desafio de ampliar o engajamento ativo de base nas lutas para manter vivas as pautas da educação pública e reforçou a união nas lutas anticapitalistas e socioambientais na região amazônica. “Temos quase 500 filiados na Seção Manaus, mas muito poucos engajados. Esse é um grande desafio, assim como enfrentar a reforma administrativa e cobrar o cumprimento dos acordos da nossa última greve”, apontou.
Segundo Ana Lúcia Gomes, presidenta da Adua SSind., receber um evento nacional do ANDES-SN, em meio à floresta amazônica, é um ato de afirmação política, territorial e de pertencimento. "Quem trabalha, quem estuda, quem vive na Amazônia, já começa como um lutador. Todos nós que estamos aqui, quem passou por aqui, quem mora aqui, quem veio de passagem, já é um lutador", afirmou. Ela ressaltou que o contexto amazônico é desafiador, marcado por distâncias, precariedades e uma realidade muitas vezes ignorada pelos grandes centros políticos e acadêmicos.
Também participaram da mesa de abertura: Júlia Cacho, da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet); Gleice Oliveira, do Fórum das Águas; Júlio Cesar, do Movimento de Luta dos Trabalhadores Independentes (MLTI); Ronaldo Vitoriano, do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Superior do Estado do Amazonas (Sintesam); e Tanara Lauschner, reitora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Encerramento de gestão
Gustavo Seferian realizou o discurso de encerramento da sua gestão e entregou o Relatório de Atividades ao presidente eleito (2025-2027), Cláudio de Souza Mendonça. Antes da fala, foi exibido um vídeo que sintetizou as lutas e ações encampadas pelo ANDES-SN, nos últimos dois anos, pela gestão composta por 83 diretores e diretoras.
Após a exibição do vídeo, Seferian fez um balanço político-organizativo da gestão, reforçando a centralidade da mobilização de base como eixo da resistência sindical. Dividindo sua fala entre a denúncia das opressões sistêmicas e a análise dos desafios enfrentados ao longo do mandato, o ex-presidente destacou o papel do ANDES-SN na luta anticapitalista, antirracista e em defesa da educação pública.
“No Sindicato Nacional, nós enfrentamos uma aventura duríssima. Tempos marcados pela consigna da morte, do genocídio, da destruição das perspectivas de vida, que vão da Ucrânia, da Palestina, aos nossos territórios militarizados no Brasil”, destacou.
Gustavo ressaltou a gravidade da conjuntura nacional e internacional, marcada pelo avanço da extrema direita, pelos ataques aos povos indígenas, negros e quilombolas, e pela precarização crescente do trabalho docente. Denunciou também o discurso da “saída única” por meio da conciliação de classes, promovido por setores que integram o governo federal, reforçando a defesa histórica do ANDES-SN por autonomia e independência de classe.
A crise ambiental global, a desestruturação da classe trabalhadora e a ilusão de que a saída estaria nas alianças institucionais com o Capital foram temas centrais criticados. Segundo Seferian, o papel do sindicato é organizar a resistência desde a base, por meio de enfrentamentos diretos e da construção coletiva de alternativas reais.
O ex-presidente do ANDES-SN também analisou a atuação da sua gestão no biênio 2023-2025. Segundo ele, houve um crescimento do número de sindicalizados e sindicalizadas, fruto da retomada de lutas em várias seções sindicais e da reorganização de bases antes ligadas à Proifes. “Se há pouco se dizia que o ANDES-SN estava em declínio, hoje é possível afirmar o contrário. Crescemos em número de sindicalizados e em combatividade nas bases”, celebrou.
Durante o discurso, foi enfatizada ainda a importância da greve da educação federal de 2024 como conquista coletiva, organizada de forma democrática nas assembleias de base do sindicato, e não por acordos fechados à revelia da categoria. A retomada de sindicatos históricos, como a Adufscar e a Adufc, e o fortalecimento das oposições sindicais em bases ainda ligadas à Proifes foram apontados como sinais do amadurecimento político da categoria. “Se hoje o ANDES-SN sai maior, mais forte e mais combativo, é graças à entrega de cada uma e cada um dos 83 camaradas que compuseram esta gestão, além dos trabalhadores e das trabalhadoras que constroem o Sindicato no dia a dia”, afirmou.
Por fim, o discurso reforçou que os desafios permanecem imensos, mas que a direção que assume a gestão do ANDES-SN encontrará um sindicato fortalecido, coerente com seus princípios históricos e preparado para os próximos embates. “Acertamos e erramos à beça, porque fizemos luta à beça. E que bom que foi assim. Só erra quem luta. Só constrói quem se dispõe a enfrentar as contradições de frente”, concluiu.
Nova diretoria
Na sequência, ocorreu a cerimônia de posse da nova diretoria do Sindicato Nacional para o biênio 2025/2027, eleita em maio deste ano. Cláudio de Souza Mendonça, Fernanda Maria Vieira e Sérgio Barroso assumiram, respectivamente, os cargos de presidente, secretária-geral e 1º tesoureiro. Foi feita ainda a chamada nominal de toda a diretoria, composta por 83 diretores e diretoras, para a assinatura simbólica do ato de posse.
Cláudio de Souza Mendonça, novo presidente do ANDES-SN, realizou um discurso marcado pela emoção e pelo compromisso político. Ele destacou a importância dos laços construídos ao longo da trajetória de militância sindical e reforçou a urgência da luta coletiva diante dos ataques aos direitos da classe trabalhadora e da ascensão da extrema direita.
O docente, que é o primeiro presidente negro eleito no ANDES-SN, relembrou sua trajetória sindical e acadêmica, desde a atuação como técnico-administrativo e docente no Instituto Federal do Maranhão (IFMA) até a filiação à base da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Maranhão (Apruma SSind.), quando foi redistribuído para a Ufam, em 2012. “Me filiei imediatamente a um sindicato que é uma referência para mim desde o tempo de secundarista, quando meus pais eram ocupantes de terra urbana e professoras e professores da Apruma SSind. estavam ao lado do povo nas grandes ocupações que sacudiram São Luís nos anos 1980”, relatou.
Emocionado, fez homenagens à companheira, aos filhos e aos pais já falecidos, lembrando a importância da ancestralidade e do acolhimento em espaços como o quilombo Negros e Negras. “Mesmo com as diferenças salutares que existem, que nos ajudam a avançar, nunca sofri nenhum tipo de violência. Isso, para mim, é muito importante e não poderia deixar de registrar”, disse.
Ainda em seu discurso, Cláudio fez duras críticas ao sistema capitalista, às políticas de ajuste fiscal e à violência estatal que atinge de forma desproporcional a população negra e periférica. “Sobrevivemos em um mundo em que mais de um milhão de pessoas não têm o que comer. Só no Brasil, são mais de 33 milhões. Desses, mais de 9 milhões são crianças”, pontuou.
Ele também denunciou o genocídio do povo palestino e criticou a destruição promovida por políticas neoliberais ao redor do mundo. A fala reforçou a importância da greve da educação federal de 2024 e da luta permanente por direitos, como o cumprimento dos acordos firmados, o combate às reformas e a defesa da carreira única. “Precisamos nos armar, pois assim como derrotamos a PEC 32, podemos derrotar qualquer tentativa de reforma Administrativa, seja vinda do Congresso, seja vinda do governo federal”, afirmou.
Mendonça também defendeu a unificação das pautas da categoria com outras lutas sociais, como as de combate ao racismo, ao machismo, à misoginia, à LGBTI+fobia e ao capacitismo. “É preciso unir todas as lutas”, enfatizou, citando nomes como Angela Davis e Conceição Evaristo. Ao final do seu discurso, o novo presidente do ANDES-SN declarou aberto o 68º Conad.
Lançamentos
Durante a mesa de abertura do 68º Conad, foi lançada a edição nº 76 da revista Universidade & Sociedade (U&S). Participaram da apresentação representantes da comissão editorial da publicação: Jennifer Webb, Annie Hsiou e Letícia Nascimento, diretoras da gestão que se encerrou.
Com o tema central “As lutas anticapitalistas no contexto da COP 30: em defesa da vida, da Amazônia e dos povos originários/tradicionais”, a edição reforça a articulação entre a defesa ambiental, os direitos dos povos e a crítica ao modelo de desenvolvimento baseado na exploração e destruição dos territórios.
A Universidade e Sociedade é uma publicação semestral do ANDES-SN, voltada para o fomento de pesquisas e debates relacionados tanto às experiências no campo da pesquisa acadêmica como oriundos das experiências sindicais e sociais acerca de temas de relevância para as lutas empreendidas pelas e pelos docentes em defesa uma educação pública, gratuita e de qualidade. (Acesse aqui a revista)
Condições de Trabalho e Saúde Docente
Ainda na plenária de abertura, Amanda Moreira e Pedro Costa, docentes das universidades do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e de Brasília (UnB), respectivamente, e Gilberto Calil e Josevaldo Cunha, ambos diretores do ANDES-SN da gestão 2023/2025, apresentaram os resultados preliminares da 2ª etapa da Enquete Nacional “Condições de Trabalho e Saúde Docente”, organizada pelo Sindicato Nacional, por meio do Grupo de Trabalho de Saúde e Seguridade Social (GTSSA).
A iniciativa teve como objetivo traçar um panorama das condições de trabalho e saúde das e dos docentes do ensino superior e do ensino básico, técnico e tecnológico, que atuam em universidades federais, estaduais, municipais e distrital, além de institutos federais e cefets.
Esta segunda etapa ampliou o alcance para 144 instituições, com a participação de 5.362 professoras e professores, sendo 4.783 na ativa e 579 aposentadas e aposentados. A enquete evidenciou a sobrecarga de trabalho e os impactos na saúde física, emocional e financeira da categoria em atividade. Também abordou aspectos como tempo de trabalho, condições estruturais e salariais, relações de trabalho e organização sindical.
Foi possível delinear o seguinte perfil a partir das respostas. A maioria das e dos respondentes (64,7%) está na faixa etária entre 40 e 59 anos, com predominância de mulheres cisgênero (54,5%), pessoas brancas (65,5%) e heterossexuais (83,5%). Em termos de formação, 87,9% possuem doutorado e 95,5% ocupam cargos efetivos nas instituições de ensino, sendo que 86,6% trabalham em regime de 40 horas semanais, dos quais 90,7% têm contrato de Dedicação Exclusiva.
Grande parte dos e das respondentes ingressou nas universidades a partir do período de expansão do ensino superior público, com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), e hoje 25,9% acumulam entre 11 e 15 anos de serviço. Cerca de 33,5% são de Ciências Humanas, e 34,7% desenvolvem atividades simultaneamente na graduação e na pós-graduação.
O resulto final da Enquete será enviado, em breve, às seções sindicais por circular do ANDES-SN.
Apresentação cultural
Antes do início da plenária de Abertura, nesta sexta-feira (11), o indígena Jaime Diakara, do povo Desâna, pedagogo, mestre em Antropologia Social, doutorando e escritor, fez um ritual de defumação com as e os docentes presentes no auditório. A defumação é uma prática ancestral do povo Desâna, usada em cerimônias de oração, proteção, purificação e cura.
Em seguida, o grupo Cateto da Toada fez uma apresentação contagiante das toadas dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso. O folclore dos bois no estado representa a identidade, a cultura e a paixão do povo amazonense.
Fotos: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN
Confira mais fotos da plenária de abertura e da posse da nova diretoria no álbum do Facebook do ANDES-SN: