O ANDES-SN realizou, nos dias 29 e 30 de maio, o módulo nacional do Curso de Formação Sindical, com o tema “História das lutas por um movimento autônomo e democrático”. Organizado pelos grupos de trabalho de Política de Formação Sindical (GTPFS), de Organização Sindical das Oposições (GTO) e de História do Movimento Docente (GTHMD), a atividade ocorreu na sede da Regional Planalto do Sindicato Nacional, em Goiânia (GO).
A atividade contou com a participação expressiva de representantes de seções sindicais e coletivos pró-Andes, bem como de organizações de trabalhadores, culturais e políticas da região, que lotaram o auditório da Regional Planalto.
Após a mesa de abertura, aconteceu a conferência sobre “O papel do Sindicato na atual conjuntura brasileira”, proferida por Rivânia Moura, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern). A ex-presidenta do ANDES-SN fez uma abordagem ampla sobre a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras no contexto de crise do capital e os avanços do neoliberalismo e da extrema direita.
A segunda mesa “O Golpe contra o Sindicato Nacional e o debate acerca da concepção sindical (ANDES-SN X Proifes)” foi iniciada com Jennifer Webb, 1ª tesoureira do Sindicato Nacional, fazendo uma série de proposições sobre participação em sindicato docente, sobre as diferenças de organização entre ANDES-SN e a Proifes, no que se refere à construção pela base e ao processo democrático. A diretora destacou que, no ANDES-SN, estar em uma diretoria é uma condição temporária.
Conforme Jennifer, seguindo os princípios fundamentais de autonomia e independência frente a governos e administrações, o ANDES-SN, nos seus 44 anos de existência vem contribuindo para a manutenção da luta em defesa da educação pública e tem se colocado em lutas para além da sua própria categoria.
A diretora lembrou que o ANDES-SN é um sindicato classista. Sendo assim, as pautas da categoria não estão separadas da luta de classes. “Todas as questões da nossa classe precisam passar pela luta do nosso sindicato”, afirmou.
A outra apresentação da mesa foi realizada por Tânia Batista, docente da Universidade Federal do Ceará, que fez uma recuperação histórica, incluindo a da criação da Proifes e dos ataques ao ANDES-SN, e reflexões sobre o que pode ser experimentado no futuro. A professora destacou que em todos os embates, o Sindicato Nacional preservou sua autonomia qualificada, e não de isolacionismo, frente aos governos, partidos e reitorias.
Outro aspecto pontuado por Tânia foi a concepção horizontalizada do ANDES-SN, que se constitui com grupos de trabalho e a partir de seções sindicais, distante da concepção verticalizada da Proifes, uma federação de sindicatos em cujo processos decisórios a base não tem participação.
Na terceira mesa “Os Golpes nas seções sindicais e a trajetória de sindicatos locais” foram realizadas apresentações a partir da experiência de quatro situações diversas. Carlos Alberto Gonçalves, da Seção Sindical do ANDES-SN na UFRGS, recuperou a trajetória que vem desde o período FHC, com a reforma universitária e a introdução da inovação, que se expressou em concepções de disputa interna no ANDES-SN, as quais culminaram em uma série de golpes. André Ferreira, da ADUFC SSind., e Fernanda Castelano, da Adufscar SSind., apresentam dois processos muito importantes de disputas eleitorais em sindicatos que estavam vinculados à Proifes e cujas bases decidiram retornar ao ANDES-SN. Já Fernando Lacerda, da ADUFG, trouxe a experiência de uma oposição pró-ANDES-SN, que disputa eleições em um sindicato vinculado à Proifes, com todas as dificuldades inerentes um processo antidemocrático e sem transparência.
Para encerrar, a última mesa abordou as estratégias de enfrentamento em defesa do ANDES-SN. Diego Marques, da UFBA, recuperou, em sua apresentação, as disputas entre a concepção de associação e de sindicato, que marcaram a história do movimento docente até a resolução pela opção da concepção sindical. Ao acompanhar a trajetória dessa disputa, o enfoque foi no sentido de entender como essas compreensões repercutem em posições de setores hoje presentes nas bases proifeanas, influenciando o resultado de processos eleitorais. Já Artemis Martins, do IFCE, fez uma discussão sobre a atuação sindical e sua relação com a crise do sistema capitalista, com foco nos modelos de organização sindical representados pelo ANDES-SN e pelo Sinasefe.
“Foi um momento em que os retornos ao ANDES-SN, da ADUFC e da Adufscar, foram também colocados como experiências exitosas, que foram apresentadas para subsidiar também a formação e o enfrentamento dessa realidade que a gente quer entender para se contrapor cada vez mais e melhor, que é de um sindicato que não deve ser pautado por esse processo de burocratização e de distanciamento da base”, ressaltou a 1ª tesoureira do ANDES-SN.
De acordo com Maria Ceci Araujo Misoczky, 2ª vice-presidenta da Regional Rio Grande do Sul e da coordenação do GTO e do GTHMD, as mesas trouxeram importantes reflexões para fomentar o debate, que foi enriquecido pelas contribuições dos e das participantes de vários locais e contextos de luta.
“Este foi um momento muito importante para se avançar na defesa do ANDES-SN e de aprofundar a compreensão do que nos define como um sindicato classista, autônomo e de construção pela base”, avaliou.
Jennifer Webb acrescentou que o curso foi um momento formativo muito importante para o conjunto do sindicato, porque pautou a formação em torno da concepção sindical que defendida no ANDES-SN. “Foi importante fazer isso nesse momento histórico, porque ele foi fruto de um acúmulo do GT mais recente do ANDES-SN, que é o GTO. Após um ano da sua criação, a gente conseguiu acumular e perceber que, tanto por esse aspecto da reaproximação dessas oposições do sindicato, na sua forma mais sistematizada, quanto pela caracterização de um perfil da categoria que está chegando no sindicato, de ser um perfil de docentes que, pela sua própria trajetória, seja por conta da sua idade seja por conta da sua atuação, desconhecem parte dessa história do sindicato”, avaliou.
A 1ª tesoureira do Sindicato Nacional pontuou ainda que foi um momento de resgate emblemático, porque o curso foi construído também pelo GTHMD, que trata da história do sindicato, e pelo o GTPFS, que elabora sobre a política de formação sindical. “Conseguimos, nesse evento, unir esses três GTs - o GTO, o GTPFS e o GTHMD - e trazer essa temática, colocando a realidade em forma de estudo, por meio das nossas mesas, que foram organizadas com temáticas, trazendo a concepção que a gente defende, de ser um sindicato nacional versus uma concepção de ser uma federação”, disse.
“O curso trouxe a nossa compreensão da democracia dentro do sindicato, na sua constituição, que vem desde a sua estruturação, da sua forma de eleição, que é escolher diretamente pela base os nossos dirigentes, ao contrário de uma federação, que é uma burocratização da atuação. Todo esse processo dentro do nosso sindicato, que reflete a sua democracia interna para além da sua diretoria, é também expresso na sua forma organizativa, por meio dos processos deliberativos, que são a partir da nossa base, com a organização por meio do local de trabalho. Esse foi o momento para enfatizar essa nossa característica primordial e, para além disso, também trazer experiências da aproximação das oposições, da luta que há nessas oposições”, explicou.
Inauguração da sede da Regional Planalto
Jennifer Webb ressaltou ainda que o curso foi um momento importante, pois marcou a inauguração da sede da regional Planalto do ANDES-SN, na cidade de Goiânia. “É um lugar que teve recentemente eleição, e no qual a oposição [pró-ANDES-SN] é organizada, consolidada, vem colhendo frutos importantes dessa organização, e enfrentou a burocratização das suas direções no curso da greve de 2024, junto com tantas outras universidades nas quais o ANDES-SN não está na base, mas que os professores ali na sua própria organização, nessa concepção, conseguiram dirigir uma greve, ainda que não fosse por meio da sua entidade sindical”, enfatizou.